A história começa quase como um delírio entre amigos. Durante encontros semanais que batizaram de Dry Cinco e Meia, para bater papo e tomar dry martíni, o artista plástico Alexandre Mazza e o arquiteto Arturo Isola pensaram que seria legal produzir um gim próprio.
— Ficamos um ano e meio falando sobre isso meio solto, era mais um entre os vários projetos. Só que em algum momento esta ideia cravou na minha cabeça de um jeito diferente e comecei a pesquisar o assunto a fundo. Comprei alguns botânicos e testei infusões
Lembra Mazza, que coleciona gim há anos.

Alexandre Mazza e Arturo Isola, da Amázzoni.
Foi aí que começaram a rascunhar o Amázzoni, um dry gim produzido no Brasil em uma destilaria exclusiva para a bebida. Os testes iam bem na cozinha do Mazza até que um amigo de Arturo os apresentou ao mixologista argentino Tato Giovannoni, dono do bar Florería Atlántico, em Buenos Aires, que veio para o Rio comandar a pop-up do restaurante nova-iorquino Fat Radish, em 2014, e acabou ficando por aqui. Tato, além de entender muito sobre drinques, já tinha criado o seu próprio gim na capital argentina, o Príncipe de los Apostoles, que leva infusões de erva-mate, pomelo rosa, hortelã e eucalipto.
— Sempre tive vontade de fazer um gim com sabores da Amazônia, eu sabia que os botânicos daqui ficariam muito bem na bebida — “Se você fizer um gim brasileiro, com características de alguma parte da Amazônia, vai vender muito. Lá fora, a gente adora o Brasil. A Amazônia é uma loucura. Se você lançar isso com uma garrafa simples, um rótulo bonito e um nome representativo, vai vender.” Hoje, soa como uma premonição.
Nem é preciso dizer que o encontro do trio foi um sucesso, e que a parceria foi brindada com gim tônica.

A partir daí, Tato escolheu 13 botânicos nacionais que foram sendo destilados na casa de Mazza e experimentados por eles a cada encontro. Foram 44 destilações caseiras em um alambique de vidro até Tato decidir qual seria a receita final da bebida, que leva 11 botânicos, sendo um deles secreto. No meio do processo, mais um encontro fundamental: em uma viagem a Chicago, Tato foi apresentado a Antônio Fontes da Rocha, proprietário de uma antiga fazenda de café em Barra Mansa e que hoje produz a cachaça artesanal Rochinha. Inicialmente, o trio terceirizaria uma parte da produção da bebida, que seria feita em alambiques de aguardente. Só que ao visitarem a fazenda, viram que havia espaço para uma destilaria própria de gim. Arturo projetou, eles encontraram um mineiro especialista em alambiques, e o Brasil ganhou a primeira destilaria especializada em gim, com alambiques de cobre e serpentina especial.
— Fazemos gim como se faz gim. Sem adaptações — comenta Mazza, e continua. — A maior parte da receita é de zimbro, claro, e a pitada brasileira é bem delicada, nada floral. Não vai sair uma Carmen Miranda da garrafa.
Entre os ingredientes que entram na bebida estão semente de coentro, casca de limão-siciliano e mexerica, louro, cacau, castanha-do-pará, maxixe, cipó-cravo e pimenta-aroeira.
— Todos os ingredientes são macerados, não usamos nada de essência. Cada um destes botânicos tem um tempo de infusão. Por isso, são 11 tanques, um para cada — explica Mazza, que é o responsável por destilar a bebida e quem fica no vai e vem entre o Rio e a Fazenda Cachoeira. — O Tato é o grande alquimista e eu, o aprendiz. Sou artista e produzir é a minha praia. O Arturo faz toda a parte administrativa.
A garrafa do Amázzoni é feita artesanalmente com vidro reciclado e lembra as de farmácia do século XVIII. O rótulo tem traços art nouveau e foi desenhado pelo ilustrador Thiago Modesto.